Festa no outro apartamento

Oi, pessoal!

Porque será que sempre achamos que a grama do vizinho é mais verde que nossa? Não podemos, em hipótese alguma, deixar de viver a nossa vida para viver a dos outros... A "festa" não pode acontecer apenas "no outro apartamento"... Sabem do que estou falando, não é?  "Pegar carona" na alegria alheia é preguiça e pode ser uma furada... Assim diz, e com muita propriedade, a escritora Martha Medeiros na crônica abaixo. Ficar na janela vendo a banda passar é deixar de viver!!! Então, bora lá correr atrás da banda...

Bom domingo!!!






                Festa no outro apartamento


Anos atrás a cantora Marina compôs com o irmão dela, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: "eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento". Passei minha adolescência inteira com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar, porém eu não havia sido convidada.
Até aí, nada de novo. Não há um único ser humano que já não tenha se sentido deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. O problema está em como a gente reage a isso. A grande maioria que espera "acontecimentos" fica ligada demais na festa do vizinho, se perguntando: como fazer para ser percebido? A resposta deveria ser: percebendo-se a si mesmo. Mas é o contrário que acontece: a gente passa a se vestir como todo mundo, falar como todo mundo, pensar como todo mundo. Só então consegue passe livre: ok, agora você é um dos nossos, a casa é sua.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação tão infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias de jornal. As pessoas alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
É preciso amadurecer para descobrir que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro não costumam ser revelados. Pra consumo externo, todos são belos, lúcidos, íntegros, perfeitos. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa sacando que nada é o que parece ser.
Sua solidão, sua busca por paz interior, seus poucos e leais amigos, seus livros, suas músicas, fantasias, de desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na sua biografia, e pode ser mais divertido que uma balada em algum lugar distante. Pegar carona na alegria dos outros é preguiça, e quase sempre é furada. Quer festa? Promova-a dentro do seu apartamento.



6 comentários:

  1. bom domingo pra vc tbm! adorei a crônica!!!

    bjus,


    Érica

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  2. tem gente que nao consegue viver a propria vida,tem sempre que achar que os outros são melhores que eles,e porisso acabam deixando de viver e ser feliz,

    bj,


    Vívian

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  3. a festa tem q acontecer na nossa vida!
    bj,


    Gabi

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