Você é

Oi pessoal! Tudo bem?

Já falei inúmeras vezes que amo a escritora Martha Medeiros, uma gaúcha de Porto Alegre, que escreve com alma e coração. Coloca no papel tudo aquilo que pensamos e que  muitas vezes não conseguimos expressar. Ela extrai da complexidade dos dias de hoje, a reflexão que atinge e aquece o coração dos leitores. Experimentem ler um livro de crônicas de Martha (como por exemplo "Doidas e Santas", "Non-Stop" ou "Feliz por nada") e vocês me dirão se conseguiram parar antes de chegar à última página! Martha tem uma sensibilidade ímpar! Por isso faz tanto sucesso, e é tão premiada e admirada. Eta gaúchinha de ouro!!!
Nesta crônica "Você é", Martha descreve como ninguém, que a vida se traduz naquilo que vivemos e não no que comemos ou vestimos! Somos aquilo que ninguém vê!
Beijo, galera!

                                                                   
                                                                  VOCÊ É

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pêlo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.
                                                                                                                   
                                                                                                                                      Martha Medeiros

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